terça-feira, agosto 31, 2010

somos todas prostitutas

Então é assim para os cavalheiros do Irã... Se para eles são as 'prostitutas francesas', como a imprensa oficial iraniana se refere a Carla Bruni e suas compatriotas, que estão apoiando a pobre senhora Sakineh e tentando sensibilizar a comunidade internacional para evitar seu apedrejamento, isso só pode significar uma coisa: que eu, minha falecida mãe, minhas quatro filhas e quase todas as mulheres que eu conheço - ou seja, todas as que tiveram relações com mais de um homem na vida e foram/são donas de sua sexualidade e independência - somos todas igualmente prostitutas.

O atual governo brasileiro tem vergonhosamente apoiado o sr. Ahmadinejad e sua ditadura teocrática, que se baseia no desrespeito aos direitos humanos, aprisiona cineastas e opositores de consciência, e visivelmente odeia mulheres. Fico me perguntando qual será a terrível ameaça que representa para estes governos islâmicos a nossa liberdade. E como serão as relações entre os dois países, Irã e Brasil, caso o presidente do Irã tenha que estreitar seus laços diplomáticos com uma mulher pública, possível futura presidente do Brasil (como bem lembrou nosso João Ubaldo, o termo 'presidenta' não existe, ou teríamos de criar a figura da 'gerenta' e da 'adolescenta'). São duas candidatas, afinal de contas, sendo uma delas mais que apadrinhada pelo amigo dele e nosso atual governante - et pour cause, favorita nas pesquisas.

Então, de uma mulher pública para outra: caso se eleja, como a senhora pretende lidar com isso?


quinta-feira, agosto 26, 2010

novas e antigas parcerias

Esse encontro da foto, aqui em casa,  já tem algum tempo, mas se repetiu recentemente na casa do casal acima - Mário e Mariza Adnet, amigos mui queridos, de longuíssima data. Aqui, assim como no encontro de domingo passado, eles estão com um de meus "sobrinhos" musicais, o pianista e arranjador Philippe Baden Powell - que com Mário fez o excelente 'Afro-Samba-Jazz', baseado nas composições do pai dele, Baden Powell, por supuesto. Eles acabam de voltar de uma turnê nacional sobre este trabalho, e Mário já está no projeto seguinte, lançando um belo disco chamado 'O Samba Vai', do qual participei como parceira em uma música, que gravei cantando junto com ele.

O disco do Mário é uma beleza, talvez o melhor dos autorais feitos por ele - que é também um craque em adaptar para orquestra repertório alheio, como já vimos em suas recriações das obras de Baden, Moacir Santos, Tom Jobim e João Donato. Uma das faixas é a atual recordista de execuções na minha rádio-cabeça: 'Fred Astaire do Samba' ("eu sou que nem Fred Astaire/ sei conduzir a mulher/ não sou padrão de beleza/ mas tenho samba no pé"), parceria dele com o irmão Chico Adnet, que os dois dividem com a voz personalíssima e cheia de verve carioca de Pedrinho Miranda. Pura diversão, dentro de um CD que tem coisas belíssimas e a mão mágica do Mário na orquestração.

(Sempre achei que Chico é o verdadeiro Marcelo Adnet, ou seja, que o jovem humorista consagrado na TV e no teatro na verdade é uma continuação, com maior visibilidade, do jovem arranjador que nos anos 1980 fazia coisas do arco da velha com o Céu da Boca, grupo vocal de que ele fazia parte. Quem ouviu o arranjo delicioso e hilário da 'Canção Pra Inglês Ver', de Lamartine Babo, feito pelo Chico, com direito ao seu solo de trompete de boca, vai entender porque o filho dele saiu assim...)

Philippe, por sua vez, está me tentando com a possibilidade de uma inusitada parceria com o falecido pai dele, de quem pessoalmente nunca cheguei a ser próxima, fiquei apenas admirando de longe, mas cuja música também foi meu alimento durante décadas. Vamos ver. É muita responsabilidade...


Tive há poucos dias uma boa experiência ao tocar no projeto Sete em Ponto, no Teatro Carlos Gomes, com o músico americano, radicado no Rio, Scott Feiner (na foto acima, nosso ensaio aqui em casa). Ele, que é basicamente um jazzista, faz uma interessante mistura musical, que ele chama de 'pandeiro-jazz'. Com seu excelente trio (ao lado do pianista Rafael Vernet e do baixista Alberto Continentino, dois jovens craques), Scott mostrou repertório autoral, de composições próprias - e de jazz moderno, só que tocado com pandeiro, o que tira de cara qualquer semelhança com o chamado 'samba de gringo', longe do simplismo do jazz tocado com levada brasileira, que é o que a maioria dos jazzistas americanos acredita que se deve fazer em seus projetos "brasileiros". 

Perdão, leitores, por tanto adjetivo junto, mas não há jeito. É muito bom conhecer mais e mais gente competente, talentosa e esperta, no melhor sentido da palavra. E melhor ainda ver que a música criativa não está nem de longe parada, apesar de todos os percalços. Ao contrário, resiste gloriosa e se renova sempre. 

Salve a criação!


segunda-feira, agosto 23, 2010

Cultura é pão!!!

Eleições à vista, e não se vê nenhum candidato falando em cultura. Fala-se - muito genericamente - em educação, sem que as pessoas se dêem conta de que as duas coisas são indissociáveis. E não faltam políticos, de todas as procedências, prontos a acabar com essa farra cultural. Ora, quem vocês pensam que são, artistas, criadores, educadores? O negócio é dar lucro já. O prejuízo, veremos várias gerações depois.

Não bastasse o pavoroso projeto do governo do PT de criar uma "nova lei de direito autoral" onde o direito deixa de pertencer ao autor, eis que agora vem de SP (leia-se DEM/PSDB) a notícia de mais um desmonte na cultura brasileira. Desta vez, da TV Cultura, que era um oásis na programação das nossas TVs. Fala-se em demissões, cancelamento de programas importantes e até na venda dos estúdios. Um crime de lesa-pátria, que prova que o descaso com a cultura não tem partido, está igualmente distribuído por todos. Quem há de nos salvar?

Minha neta - brasileirinha-sueca, nascida na Alemanha -  começou, pela primeira vez, a se interessar em falar português graças aos programas da série 'Rá-Tim-Bum". O programa Ensaio, de Fernando Faro, é memória viva da MPB há quase 40 anos. Mas os burocratas querem números. Vejam o artigo abaixo, que saiu no Estado de SP há poucos dias.

Cultura pra quê?

Maria Rita Kehl - O Estado de S.Paulo - 21/08/2010

Um dia a massa há de provar do 
biscoito fino que fabrico. 

(Oswald de Andrade)

Que pena. Cada vez que me decido a escrever uma crônica mais leve nesta coluna (não ouso dizer literária. Bem, já disse), o sentimento do mundo me pega não como a doce melancolia do poeta, mas como um paralelepípedo na testa. Não sou capaz de recusar o debate público. Deve ser um sintoma grave, desses que não têm cura depois de certa idade.

Desta vez, a acalorada discussão em torno do projeto de desmanche da TV Cultura me pegou pela cabeça e pelo coração. O economista João Sayad é um homem público respeitável. Conseguiu botar em ordem as finanças da Prefeitura de São Paulo depois da calamitosa gestão Celso Pitta. O ministro Fernando Haddad contou que foi em conversa com ele que surgiu o projeto dos CEUs, oásis de cultura e sociabilidade a quebrar a aridez da vida nos bairros mais pobres da cidade. João Sayad não precisa de prestígio. Já tem.

Por isso não entendo o que o levou a assumir a presidência de um empreendimento que ele não conhece, não parece interessado em conhecer e, acima de tudo, evidentemente não gosta. Até o momento não li nem ouvi falar de nenhuma proposta criativa de Sayad para a TV Cultura. Nenhum novo projeto de programa, de modificação na grade, nenhum novo conceito sobre o papel da única tevê pública de canal aberto do Estado mais rico do Brasil. Tudo o que se sabe é que o economista veio para cortar gastos. Demitir ¾ dos funcionários! Impossível imaginar que a Fundação abrigasse 1.400 empregados inúteis. Tal enxugamento da folha de pagamentos visa a exterminar o quê? A própria programação.

Tudo leva a crer que Sayad não tinha ideia do que a TV Cultura já fez e ainda faz; em reunião interna demonstrou desconhecer até mesmo um diretor da importância do Fernando Faro, embora não haja sinais de que vá interromper o melhor programa musical do País, que além do mais se tornou um arquivo vivo da memória da música brasileira. Fora isso, terá vindo apenas para encolher os gastos da emissora, com a fúria de um exterminador do futuro? Não haverá argumento que o convença da importância de usar dinheiro público para a experimentação, a invenção e a aposta em programas de qualidade, diferenciados da mesmice das emissoras comerciais? As primeiras notícias falam em venda dos estúdios e dos equipamentos, demissões em massa e redução da TV Cultura a um pequeno e mesquinho balcão de compra de enlatados. Faz tempo que uma decisão política não me causava tristeza tão grande.

Sendo a economia de verba sua única proposta, gostaria de saber qual o destino de todo o dinheiro que ele haverá, sem dúvida, de poupar com o encolhimento da Cultura. Que se revejam as contas da emissora para eliminar possíveis desperdícios e inoperâncias, vá lá. Mas por que um Estado rico como o nosso precisa ser tão mesquinho nos gastos com sua TV pública? Uma Secretaria (infelizmente entregue a outro homem que não gosta disso) que pode manter a Osesp para usufruto da elite paulista, que pode construir um luxuoso Teatro da Dança, outro da Ópera, para a mesma elite - não pode manter uma TV experimental para um público, não necessariamente elitista, mas pequeno? O argumento é que ela é irrelevante em termos de Ibope. Então, tá. Quantos milhões de telespectadores são nece ssários na planilha do atual gestor para justificar a existência de uma emissora que funciona como laboratório de programas ligados à cultura brasileira e internacional, e que conta com um público muitas vezes mais numeroso do que o que cabe na Sala São Paulo? Não escrevo isto para criticar a Osesp. Que floresçam mil Osesps pelo Estado, pelo País. Uma só Osesp é mais progressista do que todas as pontes e viadutos que um governo possa construir. Faço a comparação para mostrar o absurdo de se desmontar, com argumentos de planilha, uma televisão pública que utiliza sua verba para oferecer biscoito fino à massa.

Escolho, para terminar, o triste exemplo de um programa que já foi extinto pela atual direção: Manos e Minas. Um corajoso programa de auditório dedicado ao hip hop, levado ao ar ao vivo nos sábados à tarde sob o comando de Rap in Hood, que estreou em CD lá por 2000, cantando: "eu tenho o microfone/ é tudo no meu nome". Ter acesso ao microfone e falar em nome próprio: na plateia, meninos e meninas de pele escura, "bombeta e moleton", não se distinguem dos mesmos meninos e meninas que sobem para dar seu recado no palco. Enfim, alguém teve a ousadia de dar visibilidade à atividade musical dos jovens da periferia de São Paulo, acostumados a só existir na mídia quando algum dentre eles comete um crime.

Manos e Minas não precisa de argumentos de segurança pública para se justificar. Dar espaço ao rap na televisão é importante por si só. Mas a decisão de acabar com o programa nos faz refletir sobre o modo como a elite paulista concebe a inclusão simbólica da periferia na produção cultural da cidade: não concebe. Daí que a pobreza, aqui, seja um problema exclusivo de segurança pública. A extinção de Manos e Minas lembra, não pelo conteúdo, mas pelo princípio operante, as desastradas políticas de "limpeza" da cracolândia. Quem mais, senão uma TV pública, poderia investir na visibilidade dos artistas da periferia?

LINK ORIGINAL: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100821/not_imp598113,0.php

 

 


terça-feira, agosto 17, 2010

Feminina na área!


SAIU!!!

Esta capa é a do vinil, por supuesto. Mas finalmente em CD no meu país, depois de 30 anos, que alegria!

Demorô!!!


sexta-feira, agosto 13, 2010

feminismo e apartheid

Um post rápido para falar do absurdo apartheid contra as mulheres, que ainda existe em certos rincões atrasados do planeta, e que é indigno da nossa condição humana. Qualquer apartheid é. Somos mais da metade da humanidade. Temos alma, o que a Santa Madre Igreja negou durante séculos. Temos direito à vida e a decidir o que fazemos da nossa sexualidade. Há mais de dois mil anos o apedrejamento das 'adúlteras' já tinha sido banido por Jesus Cristo. E em pleno século XXI ainda se faz isso? Procurem na internet por freesakineh.org e assinem, assinem, urgente!!!

Porém, ai, porém: o fato de ser feminista convicta não me obriga a votar numa mulher, apenas por sermos do mesmo gênero. Eu estaria diminuindo nossa capacidade de governar, de criar, de agir, se pensasse assim. Para administrar minha cidade, meu estado, meu país, espero que vençam os mais capazes, de todos os sexos. Não importa com que equipamento físico tenham vindo ao mundo. 

Quero honestidade e competência, e hoje em dia isso não é pouco.


terça-feira, agosto 10, 2010

livrarias


Primeiro foram as lojas de discos. Com o advento da internet, foram fechando, fechando, até que praticamente desapareceram, e atualmente é mais fácil comprar CDs em livrarias. Só que as livrarias também começam a fechar as portas, empurradas pelos leitores eletrônicos - Kindle, IPad e outros bichos. Acabo de ler sobre a venda da Barnes and Noble, minha paixão absoluta - a filial de Chelsea, em NY, ficava pertinho do nosso hotel habitual, e era nosso point preferido pra tomar café da manhã. Livros, livros a mancheia! Fechou, há cerca de 2 anos. E agora a cadeia toda está sendo vendida.

(Acima está uma foto da Tsutaya, filial Roppongi, livraria japonesa que ainda resiste - mas as lojas de discos também resistem por lá, vide a Tower Records, onde nesta recente viagem comprei um velho objeto de desejo meu, a versão em CD de 'Ana Lúcia Canta Triste', pérola dos anos 1960, que só no Japão a gente encontra. Como diria Wilson das Neves, ô sorte!) 

Resta em NY a querida Borders, um sebo de primeiríssima linha na 12th street, onde já fiz gloriosas aquisições no setor biografias de cinema, que adoro. Os sebos são a última esperança do aficionado em livro-papel. 

Em Londres, ainda me divirto no Forbidden Planet, que fica no West End, local especializado em quadrinhos e ficção científica, onde colecionadores de brinquedos temáticos e outros itens de aventura também podem cair de boca. 

Na Alemanha, no quesito livrarias, temos as lojas da Taschen, com lindíssimos livros de arte. Minha preferida está em Colônia, na Appelhofplatz. 

Na França resiste a FNAC, livraria e loja de discos, videos e produtos culturais em geral. E aqui no Rio, meu locais de crime e tentação, onde o cartão de crédito treme a cada entrada - Travessa, Argumento, Letras & Expressões (esta já diminuiu de tamanho) e no quesito música, a querida Modern Sound, que, dizem, está meio vai-não-vai, sobrevivendo mais através do bistrôzinho com música ao vivo que lá funciona. 

São lugares queridos que a gente ainda frequenta, e onde ainda fazemos nossas compras offline.
Mas até quando?