domingo, dezembro 20, 2015

Retrospectiva 2015 (o ano que não acabará)

Pro Brasil e pro mundo, um tempo difícil, diferente, cheio de surpresas muito estranhas... Mas quero me apegar ao bom e ao bem que chegaram pra mim, ou enlouquecemos todos. Pensamento positivo, como nas terapias cognitivas se faz. Vamos nessa?

Por exemplo, não quero nunca, jamais, esquecer disto aqui:

http://www2.uol.com.br/ziriguidum/1512/joyce_moreno.htm

É um daqueles momentos que a gente guarda para os dias chuvosos da vida, que sempre vêm. Foi um momento importante pra minha música- e, ouso imaginar, talvez pro Brasil também. Pois nas horas em que o mundo olha pra gente com apreensão e desconfiança, alguma coisa boa a música brasileira sempre tem pra oferecer. Sei que a música que faço, e pela qual desde sempre me dispus a morrer, se necessário, não tem a mais mínima importância dentro do meu país. Qualquer garoto ou garota lançando uma banda numa novelinha teen terá maior significado midiático imediato do que aquilo que eu e outros apaixonados fazemos com tanto amor e empenho. E não, não estou reclamando, porque entendo que é assim mesmo. O Brasil merece o Brasil que tem. Este caminho que o país vem  seguindo é uma escolha. Dá pena do Brasil, sim, dá uma tristezinha ver o erro e o desperdício - mas é uma escolha, se é que vocês me entendem. Portanto, tudo certo, não tem discussão. Morre a música brasileira como morrem os rios, a Chapada Diamantina, as florestas, nossas riquezas. Mas foi o Brasil quem quis assim. Como dizia minha avó: sua alma, sua palma.

Em compensação, o mundo, que ainda não sabe disso, nos celebra.

(Sugiro, porém,  pelotão de fuzilamento para o próximo jovem repórter que me perguntar se tenho 'mágoa' ou se 'já superei' o fato de minha música ser mais reconhecida fora do que dentro do Brasil. Por que devo  'superar', ou 'ter mágoa', por coisa tão boa? Tenham paciência... O que me entristece não é nada disso. É ver até onde chegamos que dá vontade de chorar de pena do Brasil, como minha filha caçula chorou, aos 11 anos, em sua primeira viagem à Europa. Ela já estava pressentindo quantas lágrimas seriam derramadas no futuro.)

Na real, na vida profissional, tivemos: 1) a 3a temporada da série 'Pequenos Notáveis', ensinando para as crianças a música do Brasil, que pertence, ou deveria pertencer, a eles; 2) dois novos CDs gravados - 'Cool' e 'Poesia'; 3) turnê do CD anterior, 'Raiz', pela Europa, Estados Unidos, Canadá; 4) no Brasil, shows em SP, Rio e Bahia, e o concerto comemorativo dos 100 anos de amizade Brasil-Japão, na belíssima sala de concertos da Cidade das Artes; 5) no Japão, as comemorações pelos meus 30 anos tocando lá, direto; e finalmente, 6) a apoteose que foi o concerto com minha obra autoral na Berklee, e as gentis homenagens da cidade de Boston e do estado de Massachussets, que me ofereceram diplomas em "reconhecimento pela representação e divulgação da cultura brasileira" - o que equivale a me premiar pela propaganda enganosa que faço, de um Brasil que já não existe, mas que a música evoca.

Na vida pessoal, família com saúde, graças a Deus, e todos os netos passaram de ano.
Então meu ano foi muito bom, apesar dos percalços no Brasil e no mundo. E o de vocês?


segunda-feira, dezembro 07, 2015

Na Berklee (Parte 2)

Primeiras notícias da minha semana na Berklee: chegamos ontem, e ontem mesmo já rolou um primeiro ensaio com a orquestra de alunos - uma banda de 25 músicos. O pessoal tinha me deixado à vontade pra escolher a formação que eu preferisse - cordas, sopros, um grupo maior ou menor, enfim... Como gosto de sopros, a orquestra ficou centrada nisso. Como também uso muitos vocais nas minhas gravações, um grupo adicional de 6 cantores foi incluído. 

Fiquei feliz em ver o equilíbrio de gênero na orquestra, rapazes e moças em número mais ou menos equivalente, e em todos os naipes. O naipe dos metais é predominantemente masculino (existe alguma relação misteriosa entre testosterona e saxofones?), com exceção da trombonista chinesa. Em compensação, o naipe de flautas (excelente, aliás) é todo feminino. O naipe de cantores (dois rapazes e quatro moças), dirigido pelo professor japonês de técnica vocal, é muitíssimo bom, cantando num português quase fluente. Destes, destaque para a colombiana Ana Maria, que fez o meu papel durante o último mês de ensaios, cantando lindamente minha parte, e que vai ganhar um solo em 'Misterios'. Um jovem e excelente violonista de Curitiba chamado Eduardo (ainda não sei o sobrenome) também arrasou sendo 'eu' nos ensaios. E temos mais dois brasileiros na base, o batera Rafael e a percussionista Nêga.

 Já deu pra ver também que a Berklee funciona meio no estilo Nações Unidas, com gente de tudo que é lugar. Americanos são maioria, mas tem muitos asiáticos (Japão, China e Índia na dianteira) e sul-americanos (Brasil  e Colômbia à frente). O baixista é australiano. Da Europa não vi ninguém, e acho que isso se deve à espetacular qualidade das escolas de música de lá.
Serão 15 músicas do meu repertório autoral, temos pouco tempo pra deixar tudo pronto até quinta, mas vai ficar lindo, garanto! Up and away, para o alto e avante, e enfrentando corajosamente os 3º que está fazendo lá fora...