
Lendo com algum atraso a interessante biografia de Wilson Simonal, escrita pelo jornalista Ricardo Alexandre, qual não foi a minha surpresa ao me ver citada num texto que postei aqui no blog sobre o filme 'Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei'. Diz o jornalista:
"A cantora Joyce Moreno confessou (?)
em seu blog que seu grande temor (?)
era o de que a simonalmania acabasse por ressuscitar a pilantragem (...) Algumas semanas depois, Ed Motta anunciou a materialização dos piores pesadelos de Joyce (???)
Seu próximo álbum, ''Piquenique' (...) traria uma faixa chamada "A Turma da Pilantragem", com a participação de Maria Rita, filha de Elis" (ele esqueceu de citar o pai dela, o grande arquiteto musical do Som Três)
Quem dera meus piores pesadelos fossem tão simples como uma gravação de Ed Motta em tributo à pilantragem. A vida seria bem mais fácil. Também não posso deixar de dizer que o fato de eu não gostar particularmente de algum gênero musical não me impede de reconhecer o valor de quem faz. No caso da pilantragem, por exemplo, as músicas, quase sempre bobinhas, vinham, como falei no post em questão, embrulhadas para presente pela mão de grande músicos, como César Mariano, Erlon Chaves e o próprio Simonal. Isso é inegável. Meu post foi, portanto, mal lido ou mal interpretado, mas está aqui no blog para quem quiser rever.
Já tive discussões sérias com pessoas queridas por coisas assim, e posso recordar precisamente uma que aconteceu aqui em casa, anos atrás, com uma amiga, grande instrumentista de choro e bastante "xiita" em suas posições, quando defendi uma figura do rock brasileiro. Ela sabe, e todos os que me conhecem sabem, que não sou particularmente fã do gênero ou dos artistas que o fazem - mas defendo-lhes até o fim do mundo o direito de fazê-lo. Por isso a discussão acalorada com minha amiga, que quase nos custou a amizade (felizmente ela caiu em si no dia seguinte e me ligou fazendo as pazes). A democracia começa pelo reconhecimento do direito de cada um se expressar como achar melhor, e isso vale para tudo na vida.
Também já me aconteceu de uma certa participação minha, mesmo como coadjuvante, em alguns momentos da vida privada da música brasileira, ser contada de maneira torta e ficar por isso mesmo. No livro de meu mui querido amigo Nelson Motta, 'Noites Tropicais', quando ele descreve o começo do seu namoro com Elis, no início dos anos 1970, eu estou lá no terraço da casa dela, participando de uma roda de música e mescalina com os dois e mais o meu 'namorado'. Não foi bem assim: não só havia muito mais gente presente na reunião, como na data em questão eu estava grávida da minha primeira filha, e não seria irresponsável a ponto de usar alguma droga, beber, fumar ou lá o que fosse. Quando os folguedos lisérgicos começaram a rolar - mescalina, LSD, sei lá o que o pessoal estava usando - comecei a ficar entediada e com sono. Elis muito gentilmente me ofereceu o quarto dela e ficamos lá dormindo, eu e minha adiantada barriga. Acordei com o sol já alto, subi para o terraço e lá estavam meus dois amigos compartilhando uma manta, com cara de quem fez ou vai fazer alguma travessura (os dois eram casados com outras pessoas). No que pedi um táxi e fui pra casa rapidinho.
Quando o livro do Nelsinho saiu, contando a história do jeito que ele lembrava, não dei muita atenção, pois achei que era um pequeno erro que logo, logo seria esquecido. Engano meu. O livro foi (ainda é) um best-seller, e na reedição da biografia de Elis, escrita por Regina Echeverria, a parte da festinha lisérgica contada por ele foi reproduzida, ipsis litteris. Azar o meu, que não me manifestei enquanto era tempo.
Portanto, lição aprendida, estou eu cá me manifestando quanto aos meus piores pesadelos, que passam longe de qualquer gravação de qualquer colega, em qualquer estilo e em qualquer tempo. Que fique aqui registrado.
PS- E vejam como o Lan nos via, em 1967...