OK, desconsiderem os luxuosos convidados que estiveram comigo em algum momento no Japão ou em outras paragens, e vamos nos concentrar no meio de campo: aí estão, comigo (e com Dori e Menescal) alguns grandes músicos que fazem ou fizeram parte das minhas Bandas Malucas como efetivos, durante os últimos 10 anos: Rodolfo Stroeter, Nailor Proveta, Teco Cardoso, André Mehmari _ e Tutty Moreno,
ça va sans dire, meu efetivo na música e na vida há mais de 30 anos.
A reunião desses talentosos malucos como grupo em si mesmo começou em 1998, quando surgiu um convite da Secretaria de Cultura da Bahia para o Tutty, que é baiano, gravar um CD individual. Ele optou por convidar para a empreitada músicos tão criativos quanto ele. Rodolfo e Proveta (baixo e sax-alto/ clarinete) foram escolhas imediatas, com quem ele já tocava havia tempo em várias situações e grupos, e que toparam no ato sua proposta de 'desconstruir' a música (daqui a pouco explico melhor). Para completar o elenco, ele apostou num garoto então de 20 anos incompletos, com quem tocara recentemente num concerto em SP, André Mehmari (piano e arranjos de cordas), fazendo ali sua estréia num trabalho desta responsabilidade.
Pois desconstruir a música significava pegar um tema e desdobrá-lo, revolvê-lo, recriá-lo através da liberdade do improviso _ não o surrado formato tema-improviso-volta-ao-tema, mas de fato uma recriação, algo como pegar um vestido, desmanchá-lo todinho e com o mesmo tecido fazer dele uma calça, mal comparando. André foi fundamental nessa proposta, como re-harmonizador, mas igualmente Proveta como solista, Rodolfo como meio-campista (que todo baixista é) e Tutty como ideólogo da coisa toda, transformando, como sempre fez, a bateria em instrumento harmonico e melódico _ trabalhando com ritmos, claro, mas também com cores e texturas. Assim nasceu o CD 'Forças D'Alma'.
Quando eles se apresentaram no Chivas Jazz Festival, em 2001, foi um escandalo para uns, um choque para outros, um alumbramento para a maioria. Principalmente entre os músicos, 'Forças D'Alma' ficou sendo um marco na música instrumental brasileira, e isso saiu com todas as letras em diversas publicações.
A concepção daria ainda mais dois filhotes: o CD 'Nem 1 Ai', com este mesmo grupo acrescido da bela voz de Monica Salmaso e da sanfona de Toninho Ferraguti, gravado em 99; e finalmente, o recente 'Nonada', com Tutty, Rodolfo, André, Proveta e Teco Cardoso, recém-lançado pelo selo Pau Brasil, via Biscoito Fino. Deste eu novamente participo em uma faixa (no 'Forças D'Alma', participara em duas), com uma composição minha, 'Feijão com Arroz', devidamente virada pelo avesso e com um arranjo espetacular do Proveta, ele e Teco com seus saxofones, clarinetas, flautas em todos os timbres possíveis, fazendo uma sanfona gigantesca.
Pois o CD 'Nonada' acaba de ser indicado ao Grammy Latino como melhor CD de jazz. Grammy neles, portanto, que eles merecem!
PS- o nome deste grupo sempre foi uma questão um tantinho polêmica. Forças D'Alma, uma primeira idéia, foi dispensado por todos, por remeter demais ao CD que, afinal, era do Tutty; Banda Maluca, como chegou a ser sugerido pelo Rodolfo, também remetia ao meu trabalho. Depois de muito pensar, o próprio Rodolfo propôs Nonada (como no livro de Guimarães Rosa, 'Grande Sertão- Veredas') e batizou-se grupo e CD.
Agora vimos que, por um erro ainda na prensagem do CD, o nome do selo (Pau Brasil) saiu na lista do Grammy como sendo o nome do grupo. Pau Brasil (o grupo) é outro, de que também fazem parte nossos amigos Rodolfo e Teco _ mas o Nonada é o Nonada, e a eles o que lhes pertence.