
Outro dia recebi um telefonema de uma pessoa que organizava uma mesa redonda numa festa literária em Campos dos Goytacazes. Ela queria me convidar para participar. Pensei que fosse sobre meu livro, mas achei distante demais no tempo, foi publicado em 1997, por que falar nisso agora? Não, ela me explicou: a mesa redonda seria sobre as redes de relacionamento, e conforme fiquei sabendo, tenho milhares de seguidores, sei lá se no twitter ou no facebook. Tive de explicar a ela - que me pediu desculpas, constrangidíssima - que não, com certeza não sou eu. Ou se trata de uma homônima ou de alguma impostora.
Como vivemos hoje numa sociedade-espetáculo, quase um reality show do dia-a-dia, acabei tomando certa ojeriza a essas ferramentas que, pelo que me dizem as pessoas que trabalham com gravadoras e divulgação de CDs e shows, são hoje tão indispensáveis. Não tenho, nem pretendo ter, contas em facebook, twitter, orkut, plaxo ou sei lá mais o que. Não e não. Não quero que as pessoas saibam o que estou fazendo, minhas questões pessoais ou quaisquer outros babados que sejam do meu exclusivo interesse.
Para quem quiser saber de mim em linhas gerais, cá estou com este blog, que uso como usei a coluna de jornal que mantive n'O Dia, um grande jornal carioca, entre os anos 2000 e 2002. São opiniões genéricas sobre música e acontecimentos da vida, que nada revelam da minha intimidade ou a das pessoas que me são ligadas. Minhas questões íntimas, discutirei com minha analista, que já me deu alta faz tempo, mas a quem sempre poderei recorrer se achar necessário. Ou com alguma pessoa amiga em torno de uma mesa. Ou com meus guias espirituais, segundo minha crença, sendo esta hoje a minha primeira opção. Mas não em público ou através da rede. Minha vida não é da conta de ninguém, assim como a vida de ninguém é da minha conta.
Volta e meia me surpreendo com a ingenuidade das pessoas que põem suas questões pessoais na rede, ou postam singelos momentos do tipo 'estou assistindo ao jogo pela TV', 'estou comendo uma pizza ótima', 'estou parado(a) no sinal' e outras bobagens. E maior ainda a fragilidade a que se expõem aqueles que falam de suas questões íntimas, esquecendo que a rede é universal e tudo o que cai ali vira peixe. Não faz muito tempo, uma pessoa me contava que era 'seguidora' no twitter de uma determinada artista de sua admiração. E que esta postava comentários relatando seus mais mínimos movimentos, do tipo "cheguei do ensaio, estou exausta, mas tenho de dar atenção para o meu filho... Que saco!" Legal, não?
Sinto muito, mas pra mim não dá certo. Sou da antiga e valorizo a vida privada. Como já disseram no século passado meus parceiros Jards Macalé e Capinam, cuidado! há sempre um morcego na porta principal, de tocaia, esperando que a gente dê alguma bobeira.