sexta-feira, junho 19, 2009

de novo, até jazz

Bom, vocês já sabem que quando eu viajo não levo laptop. Portanto, serão mais algumas semanas sem blog. Na volta terei novidades da tour canadense pra contar, mais fotos e tudo o mais. Por enquanto vai esta foto aí em cima, que não é Canadá mas é França, aussi francophone...

Voltaremos no começo de julho, espero que já entrando de sola no lançamento por aqui do Slow Music. Enquanto isso, deixo com vocês uma letra bem recente, sobre assuntos viajantes, de uma música que está no meu CD japonês com Donato. É o que tenho a dizer no momento. 
Até jazz, de novo!

            GUARULHOS CHACHACHA

A vida é viagem

Na estrada é que se aprende a brincar

Pra que negar

Se estou aqui de passagem

Não vou me preocupar

Com pouca bagagem

Apenas o que dá pra levar

Sem complicar

Na mala a cara e a coragem

Y vamos a bailar!

(Guarulhos chachacha!)

Quero o necessário

O extraordinário sempre é demais

Todo malandro é otário

Querendo aparecer no cartaz

E eu quero é paz

A vida é uma escola

E nela é que se aprende a surfar

Onda do mar

Se o avião não decola

Volvemos a bailar!

(Guarulhos chachacha!)


quarta-feira, junho 17, 2009

direitos de autor, parte 2

(Antes de mais nada, uma resposta rápida: Pedro, que bom saber que você está antenado com esse assunto. Intérprete também é criador, e detentor de direitos conexos! E a rapaziada mais nova, da sua geração, que já nasceu plugada, nem sempre se dá conta disso... Você não quer mandar um texto seu, pra botarmos mais lenha nessa fogueira? Vamos nos falando.)

Enfim, cada um com seu cada qual. Assim como publiquei aqui o excelente texto do meu parceiro Sérgio Santos sobre este assunto, deixo hoje com vocês a verve e o bom-humor (e o escracho típico da família dele) do nosso já constante colaborador Danilo Caymmi. Vejam as considerações hilariantes (porém igualmente sérias) do Danilo, neste "Projeto de Lei Autoral" que ele inventou, pondo a si mesmo na pele do Presidente da República (fotos do Danilo em breve, quando ele aparecer aqui em casa): 

Projeto de Lei Autoral

Dispõe sobre a criação da “ Agência Nacional de Tributação Artística”- ANTA -  e do “Sindicato dos Fomentadores e Dirigentes Ecléticos de Musica”- SIFODEM - e dá outras providências.

PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:

 Art. 1º – fica criado o Sindicato dos Fomentadores e Dirigentes Ecléticos de Musica- SIFODEM , com natureza jurídica e vinculado a todos os  ministérios , atuais e futuros, com sede e foro na capital federal – Ministério da Cultura

 Art. 2º -O SIFODEM, como instituição brasileira, terá como objetivo somente a arrecadação de direitos do autor em todo território nacional. Ao  SIFODEM não é permitida sob nenhuma circunstância, a distribuição de recursos.

Art. 3º A estrutura organizacional e a forma de funcionamento do SIFODEM  será definida nos termos desta lei, do seu Estatuto e das demais normas pertinentes. 

 Art. 4º O patrimônio do SIFODEM será constituído pelos bens e direitos que ela venha a adquirir, incluindo aqueles que venham a ser doados pela União, Estados e Municípios e por outras entidades públicas e particulares.

 Parágrafo único. Só será admitida a doação ao SIFODEM de bens livres e desembaraçados de qualquer ônus e com o ânus do autor.

 Art. 5º Fica o Poder Executivo autorizado a transferir para o SIFODEM bens móveis e imóveis necessários ao seu funcionamento integrantes do patrimônio da União bem como a admissão de pessoal oriundo do MST (Movimento dos Sem Talento) agora investido de poderes de fiscalização e punição .

Art. 6º Os recursos financeiros do SIFODEM serão provenientes de:

I- dotação consignada no orçamento da União;

II - auxílios e subvenções que lhe venham a ser concebidos por quaisquer entidades públicas ou particulares;

III - remuneração por serviços prestados a entidades públicas ou particulares;

IV - convênios, acordos e contratos celebrados com entidades ou organismos nacionais ou internacionais;

V – TAXAXÉ – taxação de 89.7% sobre o  lucro bruto de bandas baianas existentes e  que venham a existir cobrindo  todo território nacional ;

VI – BOLSA NOVA –todos os compositores habitantes da “reserva contínua do Leme ao Pontal” no estado do Rio de Janeiro e outras reservas  com a mesma característica terão   seus recursos taxados em 89,4%  e abrirão mão da autoria de suas criações artísticas em benefício das populações quilombolas do Leblon e similares. Gravadoras e editoras, brasileiras ou estrangeiras, serão obrigadas a deixar áreas de proteção  assim  que as mesmas   sejam   definidas pelos órgãos federais competentes. Criação  de regime de cotas para a “bossa nova” como um todo, visando a reparação histórica de movimento claramente elitista.

VII- ACOD- substituirá ao atual ECAD que terá a incumbência de arrecadar recursos provenientes de execução pública ou não. Terá o  ACOD sede e 15 sub-sedes  na capital federal e 82 escritórios espalhados por todo território nacional. Serão absorvidos pelo novo órgão as seguintes  Organizações não Governamentais: C.U. (Compositores Utopistas) e o já citado MST (Movimento dos Sem Talento)

Parágrafo único. Passa o compositor nacional a ser parceiro do Ministério da Cultura que terá poder total sobre a obra.

Parágrafo único. –A ANTA  “ Agência Nacional de Tributação Artística” terá o poder de mediar conflitos entre instituições de arrecadação e a União sendo responsável pela implantação do programa  sucesso sustentável .

Parágrafo único. Criação do programa SUS (Sucesso Sustentável): tributação a  todo artista com remuneração acima de R$ 100.000,00 (independente do imposto sobre a renda).

O SIFODEM  encaminhará ao Ministério da Cultura a proposta de Estatuto para aprovação pelas instâncias competentes, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias contado da data de provimento dos cargos de presidente e Vice-presidente pro-tempore.

Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília,  1º de abril de 2009, 188º da Independência e 121º da República

Danilo Caymmi


segunda-feira, junho 15, 2009

direitos de autor

"Não me peçam para dar a única coisa que tenho para vender", já dizia a sábia Cacilda Becker, referindo-se aos ingressos para suas peças. Este é o argumento final também para nós, compositores e artistas em geral, no que se refere aos nosso direitos.  A toda hora aparece alguém (ou alguéns), de maneira consistente e que até parece bem orquestrada, pondo em dúvida o nosso inalienável direito de receber pelo nosso trabalho. Pois criação é trabalho, é obra do espírito, como está escrito na constituição brasileira, e ainda que possamos ceder nossos direitos patrimoniais, se quisermos _ e apenas se quisermos e declararmos isso expressamente na forma de contrato _ os direitos morais sempre serão nossos, e a cessão dos direitos patrimoniais não pode ser ad aeternum, deve ter prazo para o caso de o autor cair em si e mudar de idéia. Isso só pra começo de conversa.

No entanto, impressiona a insistência com que batem nesta tecla aqueles que consideram que a criação, fruto do trabalho _ sim, trabalho, insisto em dizer _ de alguns deve ser dada de graça para todos. E estes todos, não vamos esquecer, muitas vezes incluem a própria mídia e a indústria do espetáculo. Sendo assim, voltaríamos aos bons velhos tempos pré-século XX, quando o artista ou criador morria na miséria, romanticamente, uma beleza. Ou mesmo aos séculos pré-XIX, quando os compositores dependiam das encomendas de um mecenas que os sustentasse, como fizeram Beethoven, Bach e o querido Mozart _ o que, no fundo, não deixa de ser ainda válido aqui no Brasil, com as Leis Rouanet da vida. Estamos sempre dependendo da bondade de estranhos.

Vou postar aqui no blog algumas considerações de amigos compositores a respeito do assunto, que me pareceram interessantes. Começo com um texto escrito por meu querido parceiro Sergio Santos, ele mesmo grande compositor, em resposta a outro texto de alguém que não interessa aqui dizer o nome, publicado num grande portal da internet. O texto em questão dizia, em resumo, que já era tempo de se acabar com essa história de pagar por direitos autorais, que tudo deveria ser de domínio público, que o livre download seria bem-vindo e o fim dos nossos direitos cairia como uma bomba, assim como, nas palavras deste cidadão (mal) citando Gil, "uma bomba sobre o Japão fez nascer o Japão da paz". Aqui vai, portanto, um pouco editado devido ao tamanho, o sensato texto do Sergio:

Lendo seu artigo sobre direitos autorais, tomo a liberdade de lhe escrever, e há algumas questões que gostaria de colocar a você. (...)  Não se trata aqui apenas de propagação da arte, mas da sobrevivência do artista. A partir do momento que se faz um uso comercial de uma obra de arte, ou de uma imagem, ou de uma música, não é justo que seu autor receba por esse uso? A produção dessas obras não significou investimento de quem a produziu? Simplesmente dizer "salve o free download" e usar de graça o que custou o investimento de outros seria justo? O seu direito à liberdade de expressão pode se sobrepor ao direito à propriedade, no caso de um autor que não lhe queira entregar sem custo a obra que lhe pertence? Sim, porque as obras que se quer usar pertencem ao seu autor ou a quem ele outorgar esse direito, e cabe exclusivamente a ele decidir se quer dá-la de presente a você ou se quer cobrar por ela. 


O nosso ex-ministro, por exemplo, abriu mão de seus direitos autorais legítimos e disponibilizou um de seus discos. Nada mais justo. O fez com um trabalho pouquíssimo conhecido (O Sol de Oslo, você conhece?). Abrir mão de seus direitos autorais em trabalhos mais conhecidos e mais rentáveis comercialmente, seria uma decisão de foro íntimo, só caberia a ele. Eu acredito que seja muito pouco provável que, caso algum outro artista queira gravar, por exemplo, Domingo no Parque, que o nosso ex-ministro abra mão de seus direitos autorais (...) E qualquer que seja a decisão dele, ela será justa! Cabe exclusivamente a ele decidir. No entanto, não há justiça em exigir que o ganha pão de qualquer criador que viva da sua obra tenha que ser necessariamente entregue de graça a você ou a quem quer que seja. Essa é a única coisa que ele tem a vender e tirar o seu sustento. (...) 


Pergunto a você, de que forma um artista como Dorival Caymmi, por exemplo, que nos deixou com mais de 90 anos, iria sobreviver sem os seus direitos autorais? Fazendo shows numa cadeira de rodas? Não seria injusto querer usar comercialmente a sua criação genial em um de seus filmes e não pagar a ele pelo uso? Pagar pelo uso comercial da criação alheia fere de que forma a sua liberdade de expressão? 


(...)Se você quer usar em um de seus filmes comerciais uma música do Fagner, ou do Bob Dylan, ou dos Stones, que fizeram a sua cabeça, é porque de alguma forma elas representam e valem algo para você e para o  público de seus filmes. Se assim não fosse, você mesmo faria qualquer música e a usaria. É injusto que se remunere a quem criou precisamente aquela música que tanto lhe toca, caso ele não queira dá-la a você? Você acha que simplesmente pensar que "o cara gravou um disco, escreveu um livro, pintou, bordou - ótimo que a coisa se espalhe" é uma atitude que pode garantir a sobrevivência e a dedicação à sua arte de algum artista que viva dela? Estamos aqui falando de quem vive de sua arte, e não de um diletante ocasional. Veja bem, se for vontade do autor de uma obra não cobrar por ela, perfeito. Mas é inquestionável o direito de quem detém a autoria de ser remunerado pelo uso comercial de sua obra, e ele não pode por isso ser visto como o vilão dessa história. (...)


Usar uma obra da forma que você defende, é como ir a uma loja e pegar o que quiser, saindo sem pagar nada. Ou a arte não tem um valor comercial? Se você acha que tem, por que agregar esse valor a um de seus filmes não deveria ter um custo? (...) É necessário que se tenha consciência de que o uso sem custo de uma obra, contra a vontade do autor, é lesiva, é injusta. É certo que infinitamente menos injusta que as mortes daqueles que foram dizimados no Japão com a bomba nuclear, mas ainda assim injusta. Para mim não foi uma bomba sobre o Japão que fez nascer o Japão da paz. Mas isso é uma outra conversa.


SÉRGIO SANTOS



quinta-feira, junho 11, 2009

álbum de fotos do Japão

Completando o post anterior: aqui vão algumas fotos dos muitos convidados das temporadas japonesas no Blue Note. Nem todos têm fotos digitalizadas, portanto faltarão alguns, cujas lembranças ainda estão analogicamente preservadas. Mas começo da frente para trás, mostrando 10 anos dessas parcerias. Na foto acima, nossa temporada de 2007, quando eu e Tutty lançamos lá o 'Samba-Jazz & Outras Bossas'.

Acima, a temporada 2006, com nosso mui querido Roberto Menescal, mais a banda _ Tutty, Rodolfo e Proveta. Bossa Nova puro-sangue e muita animação. Com Menesca tudo é simples, ele é facinho no trabalho e rápido no gatilho.

A temporada de 2005 foi de absoluta diversão, com Dori Caymmi ao meu lado, ele que já fizera comigo a temporada de 1998. Em 2005, recém-saíra nosso album "Rio-Bahia", assim como em 98 ele fora uma presença de peso no meu CD "Astronauta". Com Dori não tem erro, é muita risada garantida e grande música. André Mehmari completava a banda.

2004 parece ter sido ano de nepotismo explícito... mas nem tanto: Clara e Ana tinham seus próprios álbuns sendo lançados simultaneamente no Japão _ Clarinha, o "Morena Bossa Nova" e Aninha, o "Samba Sincopado". E não eram álbuns de estréia: cada uma delas já estivera antes no Japão, separadamente, em outras ocasiões. Foi uma coincidencia feliz o fato de que os dois CDs saíssem naquele ano ao mesmo tempo, por diferentes gravadoras. É como eu sempre digo, famílias de circo se reúnem na estrada...
(nas pontas da foto, Silvio D'Amico e Nailor Proveta)

Em 2003, o grande Carlos Lyra esteve conosco. Foi um belo show, com Proveta e Teco Cardoso na banda, além do Tutty e do Rodolfo. Era a Banda Maluca no seu auge. A grande música de Carlinhos foi um veículo perfeito para aquela sonoridade, além da presença dele, com seu eterno charme.

Nos anos anteriores, tivéramos Johnny Alf (2002), João Donato (2001), Paulo Moura (2000), Wanda Sá (1999) _ além do Dori em 98, como já foi dito.

Em 1997, Paulo Jobim (na foto, dividindo o camarim do Blue Note comigo) e Daniel Jobim (que eu peguei no colo quando bebê, pode?) foram nossos convidados num show que remetia aos (então) 40 anos da bossa nova.  Muita música do Tom e participações nossas nas músicas uns dos outros, eu no Samba do Soho (do Paulinho, com Ronaldo Bastos), Daniel fazendo um engraçado rap em japonês comigo no Taxi Driver, e ao fim, todos juntos no Boto. Na praia de fora tem o mar.

A música é uma das profissões mais bacanas que existem. A gente se diverte, viaja pelo mundo, revê amigos, faz aquilo que ama. E leva alegria para as pessoas, trabalho mais nobre não há. A música brasileira criativa é uma grande família, todos descendemos dos mesmos antepassados e nos irmanamos no som.  Agradeço todos os dias por tudo isso.


terça-feira, junho 09, 2009

no Japão com João

Enquanto esquentamos os tamborins pra partir pro Canadá na próxima semana, vai se confirmando para setembro a temporada no meu velho conhecido Blue Note Tokyo, desta vez com Donato como meu convidado.

Estas temporadas têm rolado anualmente desde 1991, quando me apresentei lá pela primeira vez _ no Blue Note, bem entendido; no Japão, a primeira vez foi em 1985, no século passado... A partir de 96, passei a levar sempre convidados, o que é legal para o público e para mim: sendo assim, o show que fazemos nunca será o mesmo do ano anterior, haverá sempre uma novidade. Donato mesmo já esteve lá comigo em 2001, mas também lá já estiveram Dori Caymmi (98 e 2005), Toninho Horta (96), Paulo e Daniel Jobim (97), Paulo Moura (2000), Menescal (2006), Carlos Lyra (2003), Johnny Alf (2002), Wanda Sá (99) e minhas filhas Ana (2001 e 2004) e Clara (2004). Além do cantor japonês Miyazawa, que também esteve com a gente em 2001 _ ano pródigo em visitas. Ano passado, em compensação, não houve convidados e eu fiz o show apenas com meu grupo, para variar. E foi igualmente ótimo, que as platéias japonesas são sempre fiéis e lotam invariavelmente o Blue Note. Mas com um novo CD meu em parceria com João saindo em agosto pela Toy's Factory, todos concordamos que este ano ele deveria estar presente.

Nosso CD japonês vai se chamar 'Aquarius', nome de um tema instrumental do Donato, pérola dos anos 60 que regravamos, e sobre a qual já falei aqui em outro post. Este é o sensacional coro que participa de duas das faixas: além do Tutty, aqui estão Jessé Sadoc e Ricardo Pontes, nosso naipe de sopros, convocados para contribuírem também num divertido vocal.

(Como estou totalmente apaixonada por um novo filhote, que é o 'Slow Music', falo aqui um pouquinho do 'Aquarius', pra não haver ciúmes entre os dois, já que são quase gemeos. A gente sabe como são essas coisas entre irmãos...)


quinta-feira, junho 04, 2009

as boas novas

Ruy Drever (à direita na foto) é um jovem empresário paulista (nascido no Uruguai), idealista e bem-sucedido, que teve uma idéia sensacional: criar um site de boas notícias. Pra isso ele reuniu uma equipe igualmente jovem e entusiasmada de jornalistas vindos de outros veículos. E agora, depois de meses de trabalho, o resultado aí está. Eu vi e recomendo! O endereço é www.asboasnovas.com

Com vocês, a palavra do Ruy:

Boas novas pessoal!

 A iniciativa de criar este site partiu de uma necessidade minha de ter um canal de notícias onde pudesse me “abastecer” de informações positivas e construtivas para o meu dia-a-dia. Precisava de um pouco de “oxigênio e ar fresco” no meio de tanta notícia negativa que lia todos os dias nos jornais.

A idéia não é negar os fatos relevantes (e críticos) que nos rodeiam. Mas como estes já são divulgados exaustivamente, muitas vezes de forma sensacionalista pela mídia, optei pela contramão; uma nova linha editorial num universo cada vez mais livre para a produção de conteúdo de todas as espécies.

Reservei um espaço que divulga pessoas e iniciativas positivas, que fazem a diferença na tentativa de construirmos um mundo melhor.

O projeto foi tomando corpo e já se juntaram a ele algumas pessoas que hoje estão à frente do site e que são responsáveis pelo primeiro desenvolvimento da linha editorial e da identidade visual do site. Os nossos editores, Maria Clara Vergueiro, Eduardo Abreu, Fernando Flores e Renata Batochio, vieram de experiências profissionais que incluem passagens pela Globo, MTV, Trip, Vale e Istoé Negócios. 

Tomei a liberdade de adicionar alguns de vocês, que não conheço pessoalmente, mas cujos contatos pude obter com amigos meus bem próximos, então, não estamos tão longe assim uns dos outros. E considero que quando a causa é nobre, vale o aborrecimento inicial de ler um email mais longo…

Fiquem à vontade para mandar críticas, sugestões, ou mesmo para contribuírem diretamente como jornalistas cidadãos enviando suas boas novas para o nosso editorial (
mariaclara.vergueiro@asboasnovas.com e dado.abreu@asboasnovas.com).


terça-feira, junho 02, 2009

a vida é viagem

Pra quem trabalha com música, a vida se passa em grande parte em aviões e hotéis. Por isso mesmo quando estamos em casa, pouco saímos. Queremos curtir o ambiente que construímos, nosso silencio, a imobilidade, o chão. Viajar tanto tem suas vantagens, pois não há rotina em nenhum momento. Vamos também aprendendo alguns truques para tornar as viagens mais confortáveis, como levar a bagagem do tamanho exato do que se precisa (chegamos quase à perfeição nesse ponto, cada um leva sua mala e seu instrumento, e nada mais. Uma mala por pessoa), deixar espaço na mala para o travesseiro (importantíssimo, garantia de noites melhor dormidas), evitar comer e beber além do necessário, coisas assim. Tem funcionado bem e amenizado o stress de estar sempre em algum lugar que não é o nosso. Embora a gente também procure tirar o melhor de cada viagem, conhecer lugares e pessoas, ver o que há para se ver, e de quebra, estar trabalhando com dignidade e alegria. Não dá pra negar que por este lado é ótimo.

Quando acontece uma tragédia aérea como esta do avião da Air France _ rota que já fizemos milhares de vezes, e que há apenas um mês atrás foi feita por nossa filha mais nova com a família toda _ a angústia é maior do que o normal. Sabemos que estaremos sempre no ar a todo momento e que nossas vidas estão nas mãos de Deus. Sabemos também que não podemos abandonar o trabalho, que não para de crescer fora do Brasil e continua cada vez mais escasso por aqui. Sabemos que quando é a hora, é a hora; quando não é, não é. Mas ainda assim não podemos deixar de pensar que daqui a três semanas estaremos voando de novo, Canadá via Estados Unidos. Sempre dá um arrepiozinho.

Temos ainda na lembrança o momento difícil pelo qual passamos em 2000, voltando da África do Sul. Eu, Tutty, Mauricio Maestro, Teco Cardoso e Beth, nossa produtora, tínhamos uma escala em Buenos Aires. A estada em Johannesburgo tinha sido uma experiencia inesquecível. Mas era viagem cansativa e estávamos loucos para voltar logo. Ao invés de dormir em Buenos Aires, como tinha sido agendado, resolvemos entrar num avião da Varig que vinha para o Rio. Foi decisão de último minuto, sobraram 4 lugares no voo e fomos (Teco pegou outro voo pra SP). Além de nós, no mesmo avião, o querido Augusto Boal e alguns músicos da banda de Maria Bethania, que havia feito show em Buenos Aires.

O arrependimento viria logo. Com mais ou menos uma hora de voo, caímos numa zona de turbulencia, onde o avião chegou a tombar para o lado duas vezes. Era uma das famosas tempestades magnéticas, que, depois soubemos, são normais ao sul do Brasil. Agora, parece que são normais também em outras áreas, e vêm se tornando cada vez mais frequentes. A turbulencia durou cerca de uma hora, mais que uma eternidade.  Instalou-se o caos dentro do avião, com pessoas gritando em pânico, a comissária caindo no chão (não houve serviço de bordo), o suplemento de saquinhos de vômito (sorry...) acabando, enfim, tudo indicava que não sairíamos bem dessa. 

Pois saímos. Conseguimos manter a calma, felizmente (pois até pra morrer há que se manter alguma dignidade, não é mesmo?) e afinal a aeronave se estabilizou e não houve consequencias mais graves. A perna bambeou aqui mesmo, já no Tom Jobim, quando as fichas caíram. Mas aí já estávamos em terra firme de novo. A lembrança ficou, e volta sempre que ficamos sabendo de algum caso desses. Principalmente tendo uma longa viagem logo ali.

Imagino o sofrimento dessas pessoas e suas famílias. Deus os abençoe e nos proteja nas próximas viagens.