Tenho ótimas lembranças de Filgueiras - uma linda praia pertinho de Mangaratiba, a caminho de Angra, litoral sul do RJ. Era lá que minhas amigas Luli e Lucinha (hoje Luhli e Lucina, por artes da numerologia, e não mais uma dupla) tinham uma casa onde moravam com o marido, Luiz Fernando, e as crianças deste casamento.
Porque além do trabalho musical da dupla, havia um casamento, só que nada convencional: tratava-se, como dizia na época a Luhli, de um "trisal", um casal de três - três pessoas que se amavam entre si e criaram uma família a partir desse amor. Família que, apesar de formada nos anos 1970, era pra lá de alternativa, e na verdade o seria ainda hoje. Nós aqui em casa - que éramos, ainda somos e sempre seremos um casal de dois - respeitávamos a escolha de nossos amigos, pessoas mui queridas, e frequentávamos a casinha de Filgueiras com nossas crianças e outros amigos.
Foi lá, entre outros acontecimentos, que foram feitas as fotos para a capa do meu disco "Feminina" no comecinho de 1980, que Luiz Fernando, grande fotógrafo, clicou e junto com Luhli (ex-aluna da ESDI, como ele) criou a arte e o logotipo do LP. Eu e Tutty estávamos recém-saídos dos estúdios dessa gravação (que seria uma das mais importantes de nossas vidas, embora ainda não soubéssemos disso) e éramos recém-pais de nossa filha mais nova, Mariana, na ocasião com 8 meses. Lucina, por sua vez, já estava grávida dos gêmeos Pedro e Antonio, dela e do Luiz. Ela e Luhli tinham produzido há pouco mais de um ano seu primeiro disco independente. Eram tempos férteis em todos os sentidos.
(As fotos acima, feitas nesta ocasião, são do Luiz, mas as fotos abaixo são de Lizzie Bravo, também amiga e frequentadora da casa. Ela está reorganizando seu fantástico arquivo, talvez com vistas a uma futura publicação. Tem de tudo ali: eu, Milton, Egberto, o Som Imaginário e todo o mundo da nossa turma lá pelos anos 1970. Não é pouca coisa.)
Esta foto, por exemplo, é de um carnaval na casa de Filgueiras. Da esquerda para a direita, Flor e Júlia, filhas de Luhli e Luiz. Em seguida estão minha filha Ana, depois Marya (filha de Lizzie e Zé Rodrix) e minha filha Clara. Três futuras cantoras, portanto - e naquela época, inseparáveis.
Nosso amigo Ney Matogrosso, igualmente hóspede da casa, maquiou as crianças para o bailinho da matinê do clube em Mangaratiba, e lá se foram elas cair no samba. Lindas.
Boas lembranças, que as fotos que Lizzie mandou ontem me trouxeram de volta. Tempos de juventude, criatividade e paixão pelo que estávamos fazendo - o que perdura até hoje. Mas o melhor de tudo é que era feito sem pensar, deixando que a vida nos levasse, sem temer nada, como só acontece quando somos assim tão jovens.